sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Escrever pra quê? Escrever pra quem?

Um dia desses, estava eu no msn conversando sobre poesia com um amigo.
Na verdade já era noite, talvez até já passasse da meia-noite, é, era tarde já.
Minha carruagem já estava virando abóbora de novo.
Meu vestido, esse voltava a ser trapo.
Eu?!!
Bem, eu voltava a ser gata borralheira.
Ainda bem que quando o relógio deu as doze badaladas ele não viu a transformação, poderia se assustar, talvez não voltasse a falar comigo.
Sei lá, ele podia achar estranho, de repente aquela menina que ele via na aula, no trabalho, na cantina, trajando roupas “normais”, alguns não gostam do estilo dela, mas ela gosta, aparecer de camisola e chinelo.
O bom da internet é isso né, você pode conversar com seu príncipe, encantado ou não, sem precisar colocar seu melhor vestido.
Ah, mas, certamente, ele não estava em seu cavalo branco, até porque assim ficaria difícil digitar e também não cabe um cavalo na sala dele, nem deixariam ele entrar no prédio com um cavalo né.
Talvez ele tivesse acabado de subir, e talvez ainda trajasse o uniforme suado, talvez seu corpo estivesse assim como o uniforme, suado, indicando o fim de mais uma partida cansativa.
Se ele ganhou?
Não sei, nem sei ao certo se ele estava jogando, foi apenas uma colocação, mas não deixa de ser uma possibilidade.
Mas ele também podia ter acabado de sair do banho, podia trazer no corpo aquele cheiro suave de pele recém banhada. Talvez seu corpo ainda estivesse molhado.

- Peraí!!!

- Que história é essa de carruagem, de abóbora, de gata borralheira, de meia-noite, de príncipe???

- Tá doida????!!!!
- Quem disse que você é a Cinderela?
- Muita pretensão a sua né não?
- Por acaso você tem um sapatinho de cristal?

Verdade, viajei agora ó.
Me sentindo a Cinderela, oiai.
Muita pretensão mesmo.
Eu nem tenho um sapatinho de cristal...

Mas bem que podia ter né, eu queria ter um, não pra calçar, claro que não.
Pra quê então eu queria o sapatinho?
Ah, essa é fácil.
Eu colocaria ele em uma caixinha bem bonita, eu mesma ia fazer uma, depois deixaria a caixinha na porta do prédio dele, só pra ele ir atrás da "Cinderela".

Vixe, não ia dar certo.
Como ele ia saber que a caixinha era pra ele?
E se alguém chegasse primeiro, e se em vez dele, o irmão ou o amigo pegasse a caixinha?
Pior, se ele pegasse a caixinha e fosse procurar a dona do sapatinho lá no prédio?
E se alguém com o pé do mesmo tamanho que o meu calçasse o sapatinho antes de mim?
Como eu saberia se ele encontrou ou não a caixinha?

Melhor esquecer mesmo essa história, só em contos de fada mesmo que em um reino inteiro só exista uma pessoa com o pé daquele tamanho. E príncipe, cavalo branco, essas coisas também só existem em contos de fada.
Deixa isso pra lá.

Depois dessa história toda, acabei esquecendo o que conversei com meu amigo, acho que era alguma coisa sobre escrever para alguém...

Airtiane Rufino

domingo, 8 de fevereiro de 2009

Sistemas Interoperando

A conexão cai
A mensagem não chega
O e-mail não é enviado
As redes não se interligam
Os sistemas ficam esquecidos
Palavras se perdem
Nada mais interopera
O mundo parece ter se esvaziado
Todas as janelas se fecham
Cadê todo mundo?!!

De repente, a conexão volta
A mensagem chega
O e-mail é lido
As palavras voltam a ter efeito
Os textos voltam a ser escritos
Pior ou melhor que isso
Voltam ser lidos
Janelas se abrem inesperadamente
Redes se interligam
O mundo interopera caoticamente
O caos incomoda, perturba
Um simples oi ou um olá causa turbulência
Como o bater de asas de uma borboleta
O piscar das janelas causam tremor
Os sistemas rompem as fronteiras
Invadem o real e o imaginário
As redes reconectam o presente
O real relembra o passado
O imaginário repensa o futuro
Idealiza o futuro passado
Ou o passado futuro
Passado que não passa
Futuro que não chega
Presente que não passa
Redes que não se desconectam
Sistemas que não se desligam

Redes, sistemas, janelas...
E-mails, textos, palavras...
Ois, Olás...
Passado, Presente, Futuro...
Flores, canções, sensações...
Vontade, desejo, delírio...
Atração, amor, paixão...
Sentimentos, gestos, ações...

Airtiane Rufino

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

A 4 mãos...




Será que todos os poemas são verdadeiros?
Quer dizer, será que as coisas que os poetas escrevem são mesmo verdades?
Será que todos os poetas escrevem o que vivem?
Será que todas as canções cantam memórias?
Será que todas as letras traduzem cenas reais?
Será?!!
Será que o nome do poema diz algo sobre ele?
Mas, e os poemas sem nomes?
O que eles querem dizer?

Espera!!!

Os poemas não devem ser explicados.
Tampouco questionados.
Os poemas devem ser degustados como um doce predileto.
Os poemas devem ser despidos como uma virgem em sua noite de núpcias.
Lidos apenas é pouco, os poemas necessitam mais que isso.
Eles não querem ser entendidos, por isso não se explicam.
Pois os poemas, assim como o amor que eles cantam, não são para se entender e sim para se sentir.
Cada um que ama, ama de uma forma.
Cada um que lê um poema, o lê, o degusta e o despe à sua maneira.
Para alguns pode não significar nada.
Para outros pode significar tudo.

Afinal, o que é um poema?

Ah, um poema é um mundo de fantasias.
E de realidades.
São linhas de verdades e mentiras que formam um tecido.
Na verdade, um poema é apenas um emaranhado de palavras perdidas, se encontrando entre verdades e mentiras, sonhos, desejos e ilusões, recordações e imagens distorcidas.
Os poemas não passam da união destas palavras agregando sons, cores, sabores e sensações.
Se são sentidas e vividas não se sabe, nem nunca saberão.
Sabem apenas que formam um lindo poema.
E que causam novos sonhos, desejos, ilusões, sentimentos, sensações.
E que trazem à lembrança sons, cores, sabores, imagens distorcidas.
Ou nada disso...
Ou tudo isso junto...
Afinal, cada um lê, degusta, despe e ama à sua maneira.

Airtiane Rufino

Foto: Airtiane Rufino

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Um pouco de mim

Aos que já me conhecem, nenhuma novidade...
Aos que não me conhecem, um pouco de mim...

Eu sou o que vejo
Eu sou o que escuto
Eu sou o que penso
Eu sou o que falo
Eu sou o líquido salgado que rola em algum rosto
Eu sou o rosto que se molha
Eu sou o olhar tímido
Eu sou o olhar penetrante
Eu sou a voz trêmula
Eu sou a voz firme
Eu sou o cheiro que invade o vazio
Eu sou a lembrança que vaga pelos pensamentos
Eu sou a menina que chamam de mulher
Eu sou a mulher que chamam de menina
Eu sou a coragem para enfrentar a multidão
Eu sou a covardia para enfrentar a solidão
Eu sou o medo de seguir em frente
Eu sou a garra para não parar
Eu sou o copo vazio
Eu sou o cigarro na mão
Eu sou a farra
Eu sou a calmaria
Eu sou o sorriso no rosto
Eu sou o suspiro de alívio
Eu sou a vontade
Eu sou o desejo
Eu sou o beijo
Eu sou o abraço
Eu sou o afago
Eu sou a criança
Eu sou a menina
Eu sou a mulher
Eu sou a filha
Eu sou a irmã
Eu sou a aluna
Eu sou a amiga
Eu sou a paquera
Eu sou a namorada
Eu sou a companheira
Eu sou a funcionária
Eu sou a dona
Eu sou a empresária
Eu sou a atriz
Eu sou a platéia
Eu sou a alegria
Eu sou a tristeza
Eu sou a tela
Eu sou a imagem
Eu sou a ausência
Eu sou a presença
Eu sou o sonho
Eu sou a realidade
Eu sou o ócio
Eu sou o trabalho
Eu sou o desfarce
Eu sou a descoberta
Eu sou o tudo e o nada
Eu sou o nada e o tudo
Eu sou apenas eu nessa imensidão de outros "eus"


Airtiane Rufino - aprendiz de poeta, aprendiz de fotógrafa, aprendiz de aluna, aprendiz de filha, aprendiz de namorada, aprendiz de pessoa, aprendiz de aprendiz...

...porque viver é sempre um aprendizado